Reflexões
a partir do Livro “PAPEL E PRÁTICA DO CONSELHO”, de Jean Le Gal
No vasto campo da “Pedagogia Freinet”, Jean
Le Gal se dedicou mais particularmente à defesa dos direitos e das liberdades
da criança, à autogestão e ao exercício de uma cidadania participativa na
escola. Seus trabalhos estão, hoje, na base das práticas do Conselho
Cooperativo.
A correspondência, o jornal, as pesquisas, têm
levado a vida para dentro da sala de
aulas. Os acontecimentos têm sido vividos por todos, mas também por cada um e
não obrigatoriamente da mesma maneira. A estruturação do espaço e do tempo, a
organização do trabalho, evitaram provisoriamente as tensões, as explosões. Mas
aquilo que não aparece também acontece. Invisível, a desordem está lá — e
talvez a dispersão, a fragmentação do grupo. Tudo tem necessidade de ser
retomado no plano verbal, intelectual, simbólico e, se for necessário,
remanejado: esse é, talvez, o papel essencial do Conselho Cooperativo.
O
funcionamento do conselho
A análise do processo da autogestão na
escola me levou a distinguir cinco etapas principais: propor, organizar,
discutir, decidir, aplicar.
1- Antes do conselho
Cada pessoa — criança, jovem e adulto — tem
a liberdade de apresentar críticas críticas, bem como de fazer propostas. Toda
crítica, seja sobre uma pessoa ou sobre o funcionamento da classe, deve ser
assinada. Aquele que a elabora sabe que
deverá apresentar as justificativas por fazê-lo.
Assim como todos os demais, o professor
pode também ser criticado — e terá que responder sobre seus atos diante do
conselho.
Para Freinet quando o membro de uma comunidade diz publicamente aquilo que tem a
dizer, por mais grave que seja, deve ser respeitado por sua coragem moral e
cívica.
Uma proposta, para ser compreendida por
todos e se tornar objeto de um debate sério, exige uma reflexão prévia. Essa
exigência se deve à necessidade de compreensão dos alunos, de acordo com suas capacidades,
para que ninguém seja excluído.
2-Planejar minuciosamente o desenvolvimento
Não existe um esquema-modelo para o
desenvolvimento de uma reunião de conselho, entretanto muitos começam pela
apresentação de uma pauta e pela retomada das decisões tomadas na última
reunião. Em seguida, geralmente, a ordem do dia se estrutura em torno de três
campos principais:
i.
As
atividades
O balanço do trabalho
individual, dos ateliês, das atividades coletivas da semana e o estudo de novas
propostas abrem o caminho para uma programação de projetos e a organização do
emprego do tempo. Isso implica muitas vezes numa reorganização do espaço, da
aquisição de material e um balanço financeiro da cooperativa.
ii.
A
organização material e institucional da classe.
Para responder às
necessidades do grupo, a organização da classe deve ser estruturada. O
funcionamento das equipes, dos ateliês, das responsabilidades e das diversas
instituições. Tudo isso deve ser submetido a uma análise permanente de todo o
conselho.
iii.
A
vida do grupo
A mediação de
conflitos e soluções para os problemas de relações, o respeito às regras de
vida e os eventuais questionamentos constituem, também, uma função importante
do conselho.
Cada ponto da ordem do dia — da pauta — merece
ser objeto de uma discussão. Quando uma decisão precisa ser tomada e não se consegue
chegar a um consenso, organiza-se uma votação.
Os fundamentos pedagógicos, a idade das
crianças, o tempo atribuído à realização da reunião do conselho, a urgência de
uma decisão, levam a privilegiar-se, muitas vezes, um assunto em relação aos
outros.
3 - O papel do
professor
O papel do
professor é um fator crucial para o sucesso do Conselho, mas é difícil de ser
avaliado. É necessária muita atenção para que sejam respeitados os tateamentos necessários [a cada educando
em sua participação nas reuniões], evitando-se fracassos desmotivadores: é preciso
deixar ao grupo o máximo de iniciativa, acompanhando-o em direção à sua
autonomia. Pode-se e deve-se intervir para
ajudar a clarear um problema, para escolher-se uma solução, para gerirem-se as
perturbações, e recusar decisões, elucidando-se quando as decisões são
contrárias às finalidades, princípios e valores da classe.
4 - Fazer respeitarem-se
as decisões
As decisões resultantes
de uma escolha refletida e lúcida devem ser aplicadas; cada um é responsável
solidariamente com os outros pelas decisões do Conselho e por suas aplicações.
O professor é a garantia, mas as crianças e jovens devem também contribuir,
executando as tarefas previstas e se engajando nas responsabilidades relativas às
necessidades que foram determinadas. Eis a parte cooperativa de cada um.
Exercer um poder de decisão gera a obrigação e
o dever de participação para sua aplicação, a cada um na medida de suas
capacidades.
5 - Criar as
condições para a realização das reuniões do Conselho Cooperativo
Inicialmente cabe ao professor provocar o
desejo da realização da reunião do Conselho. É preciso criar a necessidade
dessa reunião, que os estudantes não conhecem, fazer com que eles se interroguem:
”— O que é esse conselho?” Isso é uma necessidade para que todos se empenhem e
se engajem plenamente em sua realização.
A realização das reuniões do Conselho
Cooperativo podem iniciar-se logo no início do ano letivo, como também se pode esperar
que as atividades que motivem a troca e a cooperação já estejam acontecendo.
Quando uma criança levanta
um problema ou apresentar um proposta, pode-se responder: ”— Falaremos sobre isso no Conselho”.
E depois, num outro
dia, pode-se aguçar a curiosidade das crianças, comentando-se: ”— Nós nos reuniremos no Conselho na segunda–feira”.
Chegado o dia, tudo
deve estar pronto: as cadeiras em círculo, a pauta preparada, a ordem em que
cada um terá direito à palavra. O momento é solene.
“— O conselho está aberto! Vocês têm o direito
de dizer aquilo que vocês quiserem sobre a vida da classe”.
Jean Le Gal
(Extratos do livro de Jean Le Gal: ”Cooperer pour
developper la citoyenneté: la classe cooperativa” Edition Hatier Collection:
Questões da Escola. Capítulo5 sobre a instalação do Conselho. [Tradução livre
de Rosa Maria Sampaio].
Movimento Freinet — Pólo São Paulo.
São Paulo, abril de 2010.
Revisão: Flávio Boleiz Júnior
Flavio gostei muito desse texto, o conselho eh uma proposta interessante. Fico pensando nas salas onde a motivacao esta la no chao talvez o conselho possa ativar essas pessoas profs e alunos
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