segunda-feira, 11 de fevereiro de 2013

Papel e prática do Conselho Cooperativo, segundo Jean Le Gal



Reflexões a partir do Livro “PAPEL E PRÁTICA DO CONSELHO”, de Jean Le Gal

No vasto campo da “Pedagogia Freinet”, Jean Le Gal se dedicou mais particularmente à defesa dos direitos e das liberdades da criança, à autogestão e ao exercício de uma cidadania participativa na escola. Seus trabalhos estão, hoje, na base das práticas do Conselho Cooperativo.

A correspondência, o jornal, as pesquisas, têm levado a vida para dentro da sala de aulas. Os acontecimentos têm sido vividos por todos, mas também por cada um e não obrigatoriamente da mesma maneira. A estruturação do espaço e do tempo, a organização do trabalho, evitaram provisoriamente as tensões, as explosões. Mas aquilo que não aparece também acontece. Invisível, a desordem está lá — e talvez a dispersão, a fragmentação do grupo. Tudo tem necessidade de ser retomado no plano verbal, intelectual, simbólico e, se for necessário, remanejado: esse é, talvez, o papel essencial do Conselho Cooperativo.

O funcionamento do conselho

A análise do processo da autogestão na escola me levou a distinguir cinco etapas principais: propor, organizar, discutir, decidir, aplicar.

1- Antes do conselho

Cada pessoa — criança, jovem e adulto — tem a liberdade de apresentar críticas críticas, bem como de fazer propostas. Toda crítica, seja sobre uma pessoa ou sobre o funcionamento da classe, deve ser assinada.  Aquele que a elabora sabe que deverá apresentar as justificativas por fazê-lo.
Assim como todos os demais, o professor pode também ser criticado — e terá que responder sobre seus atos diante do conselho.
Para Freinet quando o membro de uma comunidade diz publicamente aquilo que tem a dizer, por mais grave que seja, deve ser respeitado por sua coragem moral e cívica.
Uma proposta, para ser compreendida por todos e se tornar objeto de um debate sério, exige uma reflexão prévia. Essa exigência se deve à necessidade de compreensão dos alunos, de acordo com suas capacidades, para que ninguém seja excluído.

2-Planejar minuciosamente o desenvolvimento

Não existe um esquema-modelo para o desenvolvimento de uma reunião de conselho, entretanto muitos começam pela apresentação de uma pauta e pela retomada das decisões tomadas na última reunião. Em seguida, geralmente, a ordem do dia se estrutura em torno de três campos principais:
i.             As atividades
O balanço do trabalho individual, dos ateliês, das atividades coletivas da semana e o estudo de novas propostas abrem o caminho para uma programação de projetos e a organização do emprego do tempo. Isso implica muitas vezes numa reorganização do espaço, da aquisição de material e um balanço financeiro da cooperativa.
ii.            A organização material e institucional da classe.
Para responder às necessidades do grupo, a organização da classe deve ser estruturada. O funcionamento das equipes, dos ateliês, das responsabilidades e das diversas instituições. Tudo isso deve ser submetido a uma análise permanente de todo o conselho.
iii.          A vida do grupo
A mediação de conflitos e soluções para os problemas de relações, o respeito às regras de vida e os eventuais questionamentos constituem, também, uma função importante do conselho.
 Cada ponto da ordem do dia — da pauta — merece ser objeto de uma discussão. Quando uma decisão precisa ser tomada e não se consegue chegar a um consenso, organiza-se uma votação.
 Os fundamentos pedagógicos, a idade das crianças, o tempo atribuído à realização da reunião do conselho, a urgência de uma decisão, levam a privilegiar-se, muitas vezes, um assunto em relação aos outros.

3 - O papel do professor

O papel do professor é um fator crucial para o sucesso do Conselho, mas é difícil de ser avaliado. É necessária muita atenção para que sejam respeitados os tateamentos necessários [a cada educando em sua participação nas reuniões], evitando-se fracassos desmotivadores: é preciso deixar ao grupo o máximo de iniciativa, acompanhando-o em direção à sua autonomia. Pode-se e deve-se intervir  para ajudar a clarear um problema, para escolher-se uma solução, para gerirem-se as perturbações, e recusar decisões, elucidando-se quando as decisões são contrárias às finalidades, princípios e valores da classe.

4 - Fazer respeitarem-se as decisões

As decisões resultantes de uma escolha refletida e lúcida devem ser aplicadas; cada um é responsável solidariamente com os outros pelas decisões do Conselho e por suas aplicações. O professor é a garantia, mas as crianças e jovens devem também contribuir, executando as tarefas previstas e se engajando nas responsabilidades relativas às necessidades que foram determinadas. Eis a parte cooperativa de cada um.
 Exercer um poder de decisão gera a obrigação e o dever de participação para sua aplicação, a cada um na medida de suas capacidades.

5 - Criar as condições para a realização das reuniões do Conselho Cooperativo

 Inicialmente cabe ao professor provocar o desejo da realização da reunião do Conselho. É preciso criar a necessidade dessa reunião, que os estudantes não conhecem, fazer com que eles se interroguem: ”— O que é esse conselho?” Isso é uma necessidade para que todos se empenhem e se engajem plenamente em sua realização.
 A realização das reuniões do Conselho Cooperativo podem iniciar-se logo no início do ano letivo, como também se pode esperar que as atividades que motivem a troca e a cooperação já estejam acontecendo.
Quando uma criança levanta um problema ou apresentar um proposta, pode-se responder: ”— Falaremos sobre isso no Conselho”.
E depois, num outro dia, pode-se aguçar a curiosidade das crianças, comentando-se: ”— Nós nos reuniremos no Conselho na segunda–feira”.
Chegado o dia, tudo deve estar pronto: as cadeiras em círculo, a pauta preparada, a ordem em que cada um terá direito à palavra. O momento é solene.

“— O conselho está aberto! Vocês têm o direito de dizer aquilo que vocês quiserem sobre a vida da classe”.
Jean Le Gal

(Extratos do livro de Jean Le Gal: ”Cooperer pour developper la citoyenneté: la classe cooperativa” Edition Hatier Collection: Questões da Escola. Capítulo5 sobre a instalação do Conselho. [Tradução livre de Rosa Maria Sampaio].

Movimento Freinet — Pólo São Paulo.
São Paulo, abril de 2010.
Revisão: Flávio Boleiz Júnior


Um comentário:

  1. Flavio gostei muito desse texto, o conselho eh uma proposta interessante. Fico pensando nas salas onde a motivacao esta la no chao talvez o conselho possa ativar essas pessoas profs e alunos

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