sábado, 7 de dezembro de 2013

O significado de Mandela para o futuro ameaçado da humanidade

O significado de Mandela para o futuro ameaçado da humanidade

Leonardo Boff / 07/12/2013
Nelson Mandela, com sua morte, mergulhou no inconsciente coletivo da humanidade para nunca mais sair de lá porque se transformou num arquétipo universal, do injustiçado que não guardou rancor, que soube perdoar, reconciliar pólos antagônicos e nos transmitir uma inarredável esperança de que o ser humano ainda pode ter jeito. Depois de passar 27 anos de reclusão e eleito presidente da Africa do Sul em 1994, se propos e realizou o grande desafio de transformar uma sociedade estruturada na suprema injustiça do apartheid que desumanizava as grandes maiorias negras do pais condenando-as a não-pessoas, numa sociedade única, unida, sem discriminações, democrática e livre.

E o conseguiu ao escolher o caminho da virtude, do perdão e da reconciliação. Perdoar não é esquecer. As chagas estão ai, muitas delas ainda abertas. Perdoar é não permitir que a amargura e o espírito de vingança tenham a última palavra e determinem o rumo da vida. Perdoar é libertar as pessoas das amarras do passado, é virar a página e começar  a escrever outra a quatro mãos, de negros e de brancos. A reconciliação só é possível e real quando há a admissão completa dos crimes  por parte de seus autores e o pleno conhecimento dos atos por parte das vítimas. A pena dos criminosos é a condenação moral diante de toda a sociedade.

Uma solução dessas, seguramente originalíssima, pressupõe um conceio alheio à nossa cultura individualista: o ubuntu que quer dizer: “eu só posso ser eu através de você e com você”. Portanto, sem um laço permanente que liga todos com todos, a sociedade estará, como na nossa, sob risco de dilaceração e de conflitos sem fim.

Deverá figurar nos manuais escolares de todo mundo esta afirmação humaníssima de Mandela:”Eu lutei contra a dominação dos brancos e lutei contra a dominação dos negros. Eu cultivei a esperança do ideal de uma sociedade democrática e livre, na qual todas as pessoas vivem juntas e em harmonia e têm oportunidadades iguais. É um ideal pelo qual eu espero viver e alcançar. Mas, se preciso for, é um ideal pelo qual estou disposto a morrer”.

Por que a vida e a saga de Mandela funda uma esperança no futuro da humanidade e de nossa civilização? Porque chegamos ao núcleo central de uma conjunção de crises que pode ameaçar o nosso futuro como espécie humana. Estamos em plena sexta grande extinção em massa. Cosmólogos (Brian Swimm) e biólogos (Edward Wilson) nos advertem que, a correrem as coisas como estão, chegaremos por volta do ano 2030 à culminância desse processo  devastador. Isso quer dizer que a crença persistente no mundo inteiro, também no Brasil, de que o crescimento econômico material nos deveria trazer desenvolvimento social, cultural e espiritual é uma ilusão. Estamos vivendo tempos de barbárie e  sem esperança.

Cito o o insuspeito Samuel P. Huntington, antigo assessor do Pentágono e um analista perspicaz do processo de globalização no término de seu O choque de civilizações: “A lei e a ordem são o primeiro pré-requisito da civilização; em grande parte no mundo elas parecem estar evaporando; numa base mundial, a civilização parece, em muitos aspectos, estar cedendo diante da barbárie, gerando a imagem de um fenômeno sem precedentes, uma Idade das Trevas mundial, que se abate sobre a Humanidade”(1997:409-410).

Acrescento a opinião do conhecido filósofo e cientista político Norberto Bobbio que como Mandela acreditava nos direitos humanos e na democracia como valores para equacionar o problema da violência entre  os Estados e para uma convivência pacífica. Em sua última entrevista declarou:”não saberia dizer como será o Terceiro Milênio. Minhas certezas caem e somente um enorme ponto de interrogação agita a minha cabeça: será o milênio da guerra de extermínio ou o da concórdia entre os seres humanos? Não tenho condições de responder a esta indagação”.

Face a estes cenários sombrios Mandela responderia seguramente, fundado em sua experiência política: sim, é possível que o ser humano se reconcilie consigo mesmo, que sobreponha sua dimesão de sapiens  à aquela de demens e inaugure uma nova forma de estar  juntos na mesma Casa.

Talvez valham as palavras de seu grande amigo, o arcebispo Desmond Tutu que coordenou o processo de Verdade e Reconciliação:“Tendo encarado a besta do passado olho no olho, tendo pedido e recebido perdão e tendo feito  correções, viremos agora a página — não para esquecer esse passado, mas para não deixar que nos aprisione para sempre. Avancemos em direção a um futuro glorioso de uma nova sociedade em que as pessoas valham não em razão de irrelevâncias biológicas ou de outros estranhos atributos, mas porque são pessoas de valor infinito, criadas à imagem de Deus”.

Essa lição de esperança nos deixa Mandela: nós ainda viveremos se sem discriminações pusermos em prática de fato o Ubuntu.


Leonardo Boff escreveu Cuidar da Terra, proteger a vida: como evitar o fim do mundo, Record, Rio 2010.

domingo, 1 de dezembro de 2013

Curso por internet grátis de Escrita Científica da USP

FONTE: http://charlezine.com.br/plataforma-da-usp-ensina-escrever-artigos-cientificos/


USP lança curso de extensão online que ensina a escrever artigos científicos



Para melhorar o nível de qualidade na elaboração de artigos científicos por pesquisadores brasileiros, a  Universidade de São Paulo (USP), líder em produção científica no país, lançou o curso de Escrita Científica. Formatado para a web e oferecido gratuitamente, o curso tem como objetivo auxiliar pesquisadores e estudantes de pós-graduação na elaboração de artigos de maior relevância acadêmica

A redação de trabalhos científicos, elaborados para serem publicados em revistas, é um dos gargalos para o crescimento da produção científica das universidades, incluindo a própria USP, afirmou o pró-reitor de pesquisa da instituição, Marco Antonio Zago, em reunião recente com dirigentes da universidade. ”A técnica não é dominada amplamente, em especial pelos pesquisadores principiantes e alunos de pós-graduação”, disse  Zago.
É por isso que o curso online de escrita científica foi pensado de forma didática e intuitiva. Desenvolvido pelo professor Valtencir Zucolotto, do Instituto de Física de São Carlos-SP, o curso é dividido em 8 módulos e conta com videoaulas que explicam, passo a passo, cada uma das partes que compõem o paper (títulos, introdução, resultados, conclusões). Há um tópico especial sobre a elaboração de textos científicos em inglês. Além das videoaulas, que podem ser consultadas a qualquer momento, os interessados ainda contam com apostilas explicativas e materiais didáticos extras, que trazem indicações de obras de referência recomendadas por Zucolotto. Todos os materiais podem ser baixados livremente. O curso, no entanto, não disponibiliza a emissão de certificados.
O baixo índice de repercussão internacional de parte da pesquisa produzida nacionalmente é um dos principais problemas que impactam diretamente na inovação do Brasil. No rankingdo Índice Global de Inovação 2013produzido pela Organização Mundial da Propriedade Intelectual, por exemplo, o país ficou em 64ª lugar entre 142 países. A análise de problemas na qualidade dos artigos científicos foi um dos destaque nas reuniões do último encontro realizado pela Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), em Recife-PE, no final de julho. Na ocasião, representantes de agências de fomento apontaram a necessidade de estimular a qualidade dos trabalhos publicados por cientistas brasileiros, especialmente quando os artigos são feitos em inglês.
Com informações de: USP Porvir.

quarta-feira, 27 de novembro de 2013

Homem de cor

HOMEM DE COR

Querido irmão branco:
 Quando nasci, era negro.
Quando cresci, era negro.
Quando o sol bate, sou negro.
Quando estou doente, sou negro.
Quando morrer, serei negro.

E enquanto isso,  você:
Quando nasceu, era rosado.
Quando cresceu, foi branco.
Quando toma sol bate, você  é vermelho.
Quando sente frio, é azul.
Quando sente medo, é verde.
Quando fica doente é amarelo.
Quando morrer será cinzento.

Então, qual de nós dois é um homem de cor?


( De Léopold Senghor, poeta do Senegal)

FONTE: Recebido por e-mail de Marta Lourenço.

segunda-feira, 25 de novembro de 2013

Publicidade infantil é abuso contra as crianças


Doutrinação marxista invade os espaços acadêmicos???

Um espectro que ronda o Brasil?

Luciana Ballestrin

Neste ano ocorreram pelo menos três episódios públicos envolvendo denúncias de "doutrinação marxista" no ambiente universitário brasileiro.


Neste ano ocorreram pelo menos três episódios públicos envolvendo denúncias de “doutrinação marxista” no ambiente universitário brasileiro: a recusa de um estudante em realizar um trabalho sobre Karl Marx, a pedido de seu professor (SC); a ação popular movida por um advogado contra um projeto de extensão de difusão do marxismo (MG), que acarretou em sua suspensão pela Justiça Federal do Maranhão e a acusação de um filósofo sobre a contaminação do marxismo nas Ciências Humanas e Sociais (SP). As três notícias tiveram cobertura em veículos midiáticos, cujas posições ideológicas são historicamente conhecidas do público.

O espraiamento nacional de uma suposição sobre o avanço do comunismo e do marxismo no Brasil, às vésperas do cinquentenário do Golpe civil-militar, convida a todos os cidadãos e cidadãs para a seguinte reflexão: o que estes discursos e ideias representam no Brasil após 25 anos da promulgação da Constituição de 1988? Gostaríamos de sugerir que isso reflete uma paranoia, compartilhada por pessoas e grupos capazes de formar guetos de opinião e que a despeito do alcance restrito, ganham destaque desproporcional na mídia hegemônica.

O conceito de paranoia, em termos psiquiátricos, possui sua própria história, como todos os conceitos mais ou menos compartilhados pelo campo científico. A despeito das controvérsias particulares inerentes a este campo - no caso, o da psicanálise - é possível sustentar com baixo custo de prejuízo que a ideia de paranoia envolve basicamente um delírio persecutório baseado em uma desconfiança descolada da realidade, razão ou empiria.


Defensivas ou preventivas, as consequências políticas da proliferação do discurso paranoico anticomunista e antimarxista ferem, paradoxalmente, dois princípios liberais básicos: liberdade de expressão e tolerância. Ao mesmo tempo, reedita a paranoia clássica alimentada pela Guerra Fria, cuja conjuntura internacional fora cúmplice do segundo período ditatorial brasileiro.

Foi justamente neste contexto que ocorreu a institucionalização das Ciências Sociais no Brasil, amplamente apoiada pela estadunidense e liberal Fundação Ford.
Neste período, várias brasileiras e brasileiros pagaram com a dor, o exílio e a vida, o preço pela defesa de suas ideias comunistas e marxistas, bem como quaisquer outros que contrariassem à lógica da Ditatura Civil-Militar. Hoje, qual é o preço a pagar por essa retórica da intransigência? Como responder a uma paranoia revestida de intelectualidade, a um despautério anacrônico e a um disparate sem fundamento?

Seria um tanto contraproducente esboçar nessas linhas argumentos e razões que tentem comprovar que o Brasil não é governado por comunistas e que a universidade brasileira não está intoxicada pelo marxismo. Inútil, de igual forma, pensar na originalidade histórica dos escritos marxianos e na importância das várias correntes do marxismo - do vulgar e ortodoxo para o crítico e arejado - para os campos das Ciências Sociais Aplicadas ou não. Da mesma maneira estéril, argumentar que o eurocentrismo, o colonialismo e o progresso moderno não são completamente afastados do marxismo e que justamente por isso, ele encontra resistência nos movimentos decoloniais latino-americanos.

Produtivo, talvez, seja observar o nascimento de um novo tipo de direita no Brasil.
Mesmo os velhos e os contemporâneos clássicos do liberalismo político moderado são capazes de aceitar a tolerância, a diferença, a liberdade de expressão, a existência do Estado e o respeito ao outro. Não estamos falando, portanto, da adversária histórica direita liberal. Ela é nova justamente porque ultrapassa a própria moral e a própria ética do liberalismo e acontece neste exato momento histórico. Ela é nova justamente porque também se apropria dos discursos da esquerda e da democracia para combater a própria esquerda e a própria democracia.

Se, cada vez mais, a esquerda não tem se restringindo à alternativa marxista, criando um repertório de resistência, emancipação e libertação próprias, a direita não tem se restringido à alternativa liberal, criando um repertório de ignorância, esquecimento e ódio próprios. Certamente, o espectro que ronda a primeira já não é mais o do comunismo. Mas, o espectro que ronda a segunda ainda desagua no seu totalitarismo oposto, o fascismo. Ou será que estamos, simplesmente, paranoicos?

(*) Professora Adjunta de Ciência Política, Coordenadora do Curso de Relações Internacionais - Centro de Integração do Mercosul Programa de Pós-Graduação em Ciência Política - Instituto de Filosofia, Sociologia e Política, da Universidade Federal de Pelotas.


quinta-feira, 21 de novembro de 2013

Entrevista com Rubens Barbosa de Camargo, da Feusp: "Diretrizes para a carreira docente"

Diretrizes para a carreira docente


O professor da Universidade de São Paulo fala sobre a importância de definir parâmetros nacionais para os planos de carreira de professores e sobre as possibilidades de financiamento da educação pública



Marina Almeida



A União deve elaborar diretrizes nacionais para os Planos de Cargos e Carreiras dos professores. É o que defende Rubens Barbosa de Camargo, professor da Faculdade de Educação da Universidade de São Paulo e ex-secretário municipal de Educação de São Carlos e Suzano. 

Ele explica a necessidade de uma lei nacional que defina os grandes critérios de evolução na carreira docente, a partir dos quais as redes estaduais e municipais elaborariam seus própios planos. O pesquisador, que coordena atualmente um estudo sobre a remuneração dos professores de escolas públicas da Educação Básica, conta que os docentes não entendem sua folha de pagamento, as gratificações e descontos. Contribui para isso a ausência de Planos de Carreira claros e o fato de as políticas salariais serem, muitas vezes momentâneas e descontínuas. Na entrevista a seguir, concedida à editora Marina Almeida, o professor fala ainda sobre as expectativas do Plano Nacional de Educação (PNE), em votação no Congresso, e o debate acerca da destinação de 10% do Produto Interno Bruto (PIB) para a área. 

Como a demora para aprovação do Plano Nacional de Educação (PNE) afeta a elaboração dos planos municipais e estaduais de educação?
Desde 2010 não temos um PNE, que deveria orientar a elaboração dos planos municipais e estaduais. O MEC tem sua política, mas não há algo que dê um direcionamento nacional para a educação. É esse o papel de um plano: orientar sobre como realizar a educação nacional nos próximos anos, como perseguir determinados objetivos e metas. Sua falta implica uma postura quase que errática dos sistemas e das redes, que ficam sem uma diretriz maior, ainda que continuem tocando seus trabalhos e tenham absorvido várias das políticas dos programas federais. Outras vezes não há sintonia com a política nacional, até por divergências partidárias. O plano, como é suprapartidário, tenderia a orientar as diferentes ações numa direção mais homogênea, comum, além de possibilitar a ação de longo prazo. Sem isso, as secretarias e o Ministério trabalham apenas no que vai aparecendo, pois o dia a dia é muito intenso, das escolas ao Ministério. Se você não tem uma visão de onde quer sair e para onde quer chegar, no máximo cumprirá programas de governo. A ideia é que o Plano Nacional esteja na perspectiva de um plano de Estado, portanto acima de governos e com uma duração maior no tempo.

As redes deveriam estar revisando seus planos municipais de educação, mas muitas ainda estão elaborando sua primeira versão e justificam isso pela indefinição do PNE. 

A lei anterior já colocava a necessidade de fazer o plano, portanto não era preciso esperar o novo Plano. O que interfere é que no PNE anterior não havia a questão do financiamento, mas as redes podem rever seus planos municipais depois, à luz do que for aprovado no novo PNE, e já têm todos os elementos para sua elaboração e aprovação na Câmara. Os planos estaduais também. O Estado de São Paulo, por exemplo, fomentou os planos municipais, mas não aprovou o seu plano estadual. Há dois projetos de lei na Assembleia Legislativa, com duas visões diferentes de educação, parados. 

A Conae 2014 deve acontecer com o PNE ainda em votação, isso pode prejudicá-la?
A Conferência Nacional da Educação (Conae) e o Fórum Nacional de Educação são instâncias de participação do setor no Brasil, algo inédito e importantíssimo. Estamos no processo de realização de uma nova Conferência, mas ao mesmo tempo sem ter ainda um PNE, que está tramitando. O projeto original do Plano, que saiu do MEC e foi para o Congresso, não foi completamente respeitoso com as decisões que a Conae tinha deliberado, em especial, a questão dos recursos, que é significativa. A Conae aprovou 10% do PIB para a educação pública, mas o MEC apresentou a proposta de 7% para a educação. Estamos num momento de tensionamento. Acredito que é um momento importante de participação para interferir também no PNE em tramitação.

Após três anos no Congresso, o que podemos esperar do PNE que sairá dali?
O projeto do PNE que saiu da Câmara tem alguns pontos complicados, mas trouxe avanços, como na questão do financiamento com 10% do PIB para a educação pública. No Senado, o relator manteve os 10%, mas tirou a palavra pública da formulação, deixando apenas "educação", o que permite a interpretação de que esse valor pode ser destinado para financiar a educação privada no Brasil, em novas formas inclusive, para além das ações que já existem, como o Programa Universidade para Todos (ProUni) e as creches conveniadas. 

A destinação dos royalties para a educação será suficiente para alcançarmos 10% do PIB?
É mais uma fonte. Hoje temos diversos tipos de receitas no Brasil, a principal é a tributária, formada pela arrecadação de impostos, taxas e contribuições. Nos últimos tempos o país privilegiou as contribuições porque sobre elas não existe a vinculação para a educação e para a saúde. A arrecadação federal cresceu, mas não nos impostos - e é a receita líquida dos impostos e suas transferências, como define o artigo 212, que vão estabelecer os gastos de manutenção e desenvolvimento do ensino e são a principal receita da área. Os governos fomentaram e valorizaram mais as contribuições e entendo que é para não possibilitar a vinculação constitucional. Há várias formas de aumentar os recursos para a área e atingir os 10% do PIB. Por exemplo, fazendo incidir também sobre as contribuições uma parcela a ser destinada para a educação, o que hoje não acontece. Há ainda uma arrecadação, muito pequena, de jogos de loteria que poderia ser aumentada, se for o caso. Os royalties do pré-sal não são impostos, nem contribuições, mas são mais uma fonte de receita e uma parte dela poderia e deveria vir para a educação.

É necessário investir 10% do PIB?
Falamos em 10% do PIB porque temos gargalos em todos os níveis e etapas, mesmo o ensino fundamental, que é dito como plenamente atendido, é oferecido em um modelo de 4 horas diárias, enquanto em outros países são 7 ou 8 horas. Além disso, o ensino médio tem uma defasagem enorme. Na educação superior predomina o setor privado, porém, condições mais adequadas estão no setor público, ainda que existam exceções, claro. Para suprir esses gargalos todos e melhorar o atendimento nas escolas - de prédios, equipamentos, livros, laboratórios, e também dos salários dos docentes - seria necessário aplicar algo em torno de 10% do PIB durante um tempo. Depois de instalada a capacidade, construída, equipada, aí é questão de manutenção e esse valor pode diminuir para uns 7% ou 7,5% do PIB, dado o tamanho do país. A ideia de qualidade também é crescente, mas aqui se trata de um mínimo. 

E quanto ao reajuste do piso docente, que está sendo questionado na Justiça?
A evolução do piso está associada ao reajuste do valor do custo-aluno dos anos iniciais do ensino fundamental urbano do Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica e de Valorização dos Profissionais da Educação (Fundeb). Mas sete governos entraram com ação de inconstitucionalidade, alegando que os reajustes estão acima da inflação. Ao fazer esse movimento de reajustar o piso de acordo com o valor mínimo do Fundeb - o que inclui todos os estados do Brasil, não só os que recebem complementação da União -, o governo federal procura diminuir as diferenças regionais. Sem isso, os estados que têm maiores salários vão estar cada vez mais distantes dos com menores vencimentos. Utilizar só o Índice Nacional de Preços ao Consumidor (INPC) manterá ou até aumentará as desigualdades regionais. No entanto, esse reajuste não foi julgado ainda. 

Muitas redes reclamam que não têm recursos para o piso dos professores. Como resolver esse problema?
Na própria lei do piso há possibilidades de ampliar os repasses do governo federal para estados e municípios. Para isso, o governo federal exigiria que as redes cumprissem as vinculações constitucionais, abrissem suas contas e demonstrassem em suas planilhas que o valor do piso é impossível de ser pago pelo município com as verbas da educação. Há gritaria, mas até onde eu sei ninguém abriu seus dados para mostrar que cumpre tudo e mesmo assim não consegue pagar os salários. Não que eles não tenham outras demandas importantes, mas a educação pode determinar como será a vida das pessoas em termos de cidadania, de realização pessoal ou no trabalho. 

O grande embate hoje parece estar na reserva de 1/3 da carga horária para trabalho fora da sala de aula, que muitas redes ainda não cumprem.

Sim, é pouco cumprida. Em muitos lugares há artifícios adotados para contornar a lei. Em São Paulo, por exemplo, como o contrato do professor é por hora de trabalho e na escola ele trabalha por hora-aula (de 45 a 50 minutos), há uma tentativa de incluir esse intervalo entre as aulas na conta do 1/3 para dizer que cumprem a lei, o que a rigor não acontece.
 
O piso tem causado o achatamento das carreiras dos professores?
O piso serviu, sim, para estabelecer um valor mínimo inicial e corrigir salários de menor valor. Por outro lado, a diferença entre o começo e o final da carreira dos docentes está diminuindo. O valor inicial subiu, mas não foi acompanhado por um aumento proporcional dos demais. Há um risco de o piso se transformar no teto também, por isso a discussão mais séria hoje no movimento sindical de professores é justamente sobre a carreira. Essa é a grande discussão para enfrentar o achatamento e definir a concepção do que deve ser a carreira docente. Acho que está na hora de rediscutir a questão de uma diretriz nacional de carreira. 

Hoje cada rede tem autonomia?
A lei maior só estabeleceu a necessidade do plano de carreira que é uma discussão de cada rede, quando ele existe. Sou a favor de que o governo federal estabeleça as grandes diretrizes de como devem ser feitos os planos: qual deve ser o valor mínimo de salto do salário entre quem tem nível médio, superior e alguma especialização, qual seria o valor mínimo entre o início e o final da carreira, o valor de dispersão, qual seria a amplitude da carreira, entre outros fatores importantes. Vi Planos segundos os quais, para chegar ao final da carreira, seriam necessários 50 anos de docência ou que o professor tivesse pós-doutorado, não dá. Todas essas questões deveriam ser orientadas do ponto de vista central e os municípios e estados, dependendo de sua capacidade administrativa e financeira, podem favorecer mais ou menos as carreiras docentes, mas sem desrespeitar essas diretrizes.

Hoje o que temos por aí são modelos completamente diferentes, terminologias que aparentemente são próximas, mas com significados diversos em cada lugar - no meu entender para não permitir comparações entre uma situação e outra. Precisamos de um projeto de lei nacional que homogeneíze essas linguagens, estabeleça os mínimos nacionais de formação, amplitude, critérios... Hoje a evolução na carreira é sair da sala de aula, ser diretor, coordenador, isso teria de mudar.

E há planos nesse sentido?
Os sindicatos estão pensando a questão e uma das diretorias da Secretaria de Articulação com os Sistemas de Ensino (Sase), do MEC, está incumbida de propor algo nessa direção. A ideia não é estabelecer uma lei nacional, mas diretrizes para os planos, como se fossem parâmetros mínimos, orientações. É interessante ressaltar que não é porque existe um plano de carreira na lei que ele é cumprido. Há planos interessantes que não são postos em prática.

O fato de o piso ter como base o profissional de nível médio contribuiu para esse achatamento da carreira?
Estamos caminhando para a universalização dos professores com ensino superior e para quase 50% deles com especialização. Mesmo o pessoal das creches, que veio da assistência social e tinha uma outra formação, está buscando esses cursos. Mas é uma situação complexa, porque a própria Lei de Diretrizes e Bases da Educação prevê a formação superior, mas admite quem tiver nível médio na modalidade normal. Se isso não for revogado, continuarão existindo cursos de nível médio de formação de professores. É uma condição concreta, eles têm essa formação, estão nas redes e isso tem de ser previsto na lei. O que precisaria era definir qual seria o ganho entre quem tem uma formação de nível médio para o professor e quem tem o ensino superior, o que varia muito de plano para plano. Defendo a formação de nível superior, mas já tivemos experiências muito interessantes de formação de nível médio, como o Centro Específico de Formação e Aperfeiçoamento do Magistério (Cefam), de São Paulo, por exemplo, que era de tempo integral, com bolsa para os estudantes. 

Como os professores se posicionam diante dessas questões?
Nossa pesquisa mostrou que o professor desconhece essa questão. Às vezes não entende nem o holerite que recebe, não sabe por que num mês tem gratificação e no outro não, só sabe que é pouco. E deveria ser a primeira questão a ser analisada pelo trabalhador: o valor do salário e seus benefícios. A política de gratificações momentâneas, inventadas para algo imediato, contribui para isso e se reflete nos planos de carreira.

quarta-feira, 6 de novembro de 2013

SEM TERRINHA inicia encontro em Marabá

FONTE: http://www.mst.org.br/node/15413

MST dá início ao encontro dos Sem Terrinha

em Marabá

6 de novembro de 2013


Por Márcio Zonta
Da Página do MST
A cidade de Marabá recebeu na manhã da última terça feira (05/11) 300 crianças de todo o
estado do Pará para o encontro Sem Terrinha. O evento vai até o o sábado (09/11)  e nesse
período as crianças participarão de várias atividades.
Entre as mais destacadas está a gravação de uma música no estúdio profissional do cantor
e compositor marabaense Clauber Martins, que fará parte de CD Infância Sem Terra, com
canções de
Sem Terrinhas de todo o Brasil, a ser lançado no VI Congresso Nacional do MST, em 2014.
Ademais, as crianças vão participar de uma Audiência Pública no dia 07 de novembro na
Câmara Municipal de Marabá sobre “O Direito da Criança e do Adolescente à Educação
 à Cultura”.
Oficinas de bonecos, música, pintura, danças e instrumentos musicais ocorrerão por toda
semana no espaço conhecido como Chácara do Bispo, pertencente à diocese de Marabá.
“As crianças cantando e encantando serão os sons, as cores e o rosto da infância na
construção do VI Congresso Nacional do MST. Por muitos anos o MST vem construindo
esta atividade como espaço de autonomia e organização das crianças Sem Terra”, define
Maria Raimunda Cezar, dirigente do MST no estado do Pará.  

LEIA MAIS NO SITE DO MST:

terça-feira, 29 de outubro de 2013

Encontro do Polo Freinet em SAMPA


CARTA ABERTA AO SENADO FEDERAL EM REPÚDIO À DECLARAÇÃO PRECONCEITUOSA DO SR. CLAUDIO DE MOURA CASTRO

CARTA ABERTA AO SENADO FEDERAL
EM REPÚDIO À DECLARAÇÃO PRECONCEITUOSA
DO SR. CLAUDIO DE MOURA CASTRO

Brasil, 28 de outubro de 2013.

As entidades e os movimentos da sociedade civil que participam dos debates para a construção do novo Plano Nacional de Educação (PNE), desde a I Conae (Conferência Nacional de Educação, 2010), manifestam seu repúdio e exigem retratação pública à “proposição” desrespeitosa apresentada pelo Sr. Claudio de Moura Castro, em audiência pública realizada no dia 22 de outubro de 2013, na Comissão de Educação, Cultura e Esporte do Senado Federal.

Na ocasião, buscando reforçar seu argumento de que o PNE é inconsistente devido à participação da sociedade civil, o referido expositor sugeriu, em tom de deboche, que sua proposta ao plano seria oferecer “um bônus para as ‘caboclinhas’ de Pernambuco e do Ceará se casarem com os engenheiros estrangeiros, porque aí eles ficam e aumenta o capital humano no Brasil, aumenta a nossa oferta de engenheiros” (sic).

Preconceituosa, a “proposição” é inadmissivelmente machista e discriminatória. Constitui-se em uma ofensa às mulheres e à educação brasileira, inclusive sugerindo a subjugação das mesmas por estrangeiros. Além disso, manifesta um preconceito regional e racial inaceitável, especialmente em uma sociedade democrática. Entendemos que a diversidade de opiniões não pode significar, de forma alguma, o desrespeito a qualquer pessoa ou grupo social.

Compreendemos, ainda, que tal manifestação representa um desrespeito ao próprio Senado Federal, como Casa Legislativa que deve ser dedicada ao profícuo debate democrático, pautado pela ética e pelo compromisso político, orientado pelos princípios da Constituição Federal de 1988 e de convenções internacionais de Direitos Humanos. A elaboração do PNE, demandado pelo Art. 214 da Carta Magna, não deve ceder à galhofa, muito menos quando preconceituosa.

Por esta razão, os signatários desta Carta esperam contar com o compromisso dos parlamentares e das parlamentares em contestar esse tipo de manifestação ofensiva aos brasileiros e às brasileiras. Nesse sentido, esperamos as devidas escusas do Sr. Claudio de Moura Castro, que com seus comentários discriminatórios desrespeitou profundamente nossa democracia e a sociedade.

Movimentos e entidades signatárias (por ordem alfabética):
ABdC (Associação Brasileira de Currículo)
Ação Educativa - Assessoria, Pesquisa e Informação
ActionAid Brasil
Aliança pela Infância
Anfope (Associação Nacional pela Formação dos Profissionais da Educação)
Anpae/DF (Associação Nacional de Política e Administração da Educação – Distrito Federal)
Anped (Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Educação)
Assopaes (Associação de Pais de Alunos do Espírito Santo)
Auçuba Comunicação Educação
Campanha Nacional pelo Direito à Educação
CCLF-PE (Centro de Cultura Luiz Freire – Pernambuco)
Cedeca-CE (Centro de Defesa da Criança e do Adolescente do Ceará)
Cedes (Centro de Estudos Educação e Sociedade)
Cenpec (Centro de Estudos e Pesquisas em Educação, Cultura e Ação Comunitária)
CNTE (Confederação Nacional dos Trabalhadores em Educação)
Contee (Confederação Nacional dos Trabalhadores em Estabelecimentos de Ensino)
Escola de Gente - Comunicação e Inclusão
Fineduca (Associação Nacional de Pesquisa em Financiamento da Educação)
Flacso Brasil (Faculdade Latino-Americana de Ciências Sociais)
Fojupe (Fórum das Juventudes de Pernambuco)
FOMEJA (Fórum Mineiro de Educação de Jovens e Adultos)
Fóruns de Educação de Jovens e Adultos do Brasil
Fundação Abrinq pelos Direitos da Criança e do Adolescente
Geledés - Instituto da Mulher Negra
Inesc (Instituto de Estudos Socioeconômicos)
Instituto Avisa Lá
IPF (Instituto Paulo Freire)
Mieib (Movimento Interfóruns de Educação Infantil do Brasil)
Mova Brasil (Movimentos de Alfabetização de Jovens e Adultos do Brasil)
Movimento Mulheres em Luta do Ceará
MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra)
Omep/Brasil/RS – Novo Hamburgo (Organização Mundial Para Educação Pré-Escolar)
RedEstrado (Rede Latino-americana de Estudos Sobre Trabalho Docente)
Sociedade Paraense de Defesa dos Direitos Humanos
Undime (União Nacional dos Dirigentes Municipais de Educação).

Unipop (Instituto Universidade Popular)
Blogue Fórum Educação

sexta-feira, 12 de julho de 2013

Entrevista de Federico Mayor Zaragoza

FONTE: http://www.rosasensat.org

Federico Mayor Zaragoza
48ª Escola de Verão da Associação Rosa Sensat
12 de júlio de 2013


“Não faz falta uma nova lei de educação, e menos ainda uma com grandes reveses como a de Wert.”

A preocupação de Federico Mayor Zaragoza é que a educação não eduque. Teme que seja precisamente isso o que aconteça com a LOMCE. “Educação não é saber mais inglês ou matemática, mas formar meninos livres e responsáveis”, afirma este catedrático de Bioquímica que foi ministro da Educação entre 1981 e 1982. Ex-diretor da Unesco, adverte também que a lei Wert provoca “importantes declínios conceptuais” e contem “aspectos inconstitucionais”. Reclama que se escute mais os professores e menos a Igreja e critica que se questione o modelo de imersão linguística na Catalunha. Por tudo isso, o atual presidente da Fundação Cultura de Paz lidera uma plataforma com um título inequívoco: Stop Lei Wert.

Quais são os perigos contidos na LOMCE?

A lei corre o rico de ser fugaz porque em um tema tão essencial como é a educação não se pode ser imposta por uma maioria absoluta de parlamentares. Os próximos governos, sejam da cor que forem, não acredito que permitirão que essa lei avance. O primeiro grande erro é que nesta matéria, como na saúde e na justiça, é necessário ser genuinamente democrático. A maioria parlamentar permite a aprovação de leis com o pensamento de um partido, mas o que é legal, algumas vezes, não é autêntico e a democracia consiste em representar a grande maioria dos cidadãos. O governo está sendo precipitado em aprovar uma lei que implica grandes reveses em matéria educativa para a Espanha.

“Confunde-se educação com profissionalização e isso é um erro”. O que deveria mudar na lei atual?

Teria que haver mais filosofia, mais ensino e aprendizagem artísticos. O que é que distingue cada pessoa? A capacidade de pensar, de refletir, de imaginar, de inventar, de criar. O que não podemos fazer é eliminar tudo isso. Precisa melhorar as relações entre os professores e as famílias, fazer que a educação seja mais personalizada, cada estudante é singular. A pior coisa que se pode dizer a um menino é “escuta, você não está conseguindo acompanhar a turma”, pois o menino a quem se diga isso sempre seguira atrasado. Deve-se dizer o contrário: “Como você é bom em humanidades!” ou “Como você é bom tocando piano”. Isso é o que se deve fazer e isso é saber educar.

Segundo a Unesco, a educação deve formar meninos livres e responsáveis. Isso é possível com a LOMCE?

Duvido. Educação não é saber mais inglês ou mais matemática. Educação é o que diz a Unesco, uma definição que segue a linha proposta por Francisco Giner de los Rios há um século: “Educar-se é dirigir a própria vida”. Isso não tem nada a ver com o que está fazendo o governo nem com a definição da OCDE (Organização para a Cooperação Econômica e Desenvolvimento). Confunde-se educação com profissionalização, com capacitação profissional, com as habilidades ou destrezas que se pode ter num técnica determinada e isso não tem nada a ver com educação.

Por enquanto o que a LOMCE conseguiu produzir foi a união da comunidade educativa para lutar contra ela.

É preciso respeitar-se as marés, porque a maré pode se converter em tsunami e os tsunamis não são boas para ninguém. Faz muitos anos que escrevi na lousa “evolução, revolução”. Quando se escreve a palavra revolução e se lhe retira o “r” obtém-se evolução. Evolução é mudar o que se tem que mudar e conservar o que se tem que conservar. Isso é o que faz a Natureza e o que temos que aconselhar a todos que façam.
O governo se escuda na crise para justificar essas mudanças. Por conta da crise está-se eliminando professores, reduzindo temporários... Ao cortar por um lado, acaba-se cortando outras coisas. [...] Cortes em ciência, saúde, educação ou em justiça está errado, porque disso depende o futuro da Espanha. E o futuro da Espanha não depende do que as crianças aprendem a mais em Inglês ou Matemática.

Wert justifica os cortes dizendo que a melhoria da qualidade do ensino não está ligada ao investimento econômico. Não fez diferença o corte de 6 milhões de euros em tres anos?

Isso é uma bobagem. Não é tudo que depende de dinheiro, mas um senhor que aplica um corte dessa monta no sistema educativo deveria pensar duas vezes. O futuro de um país depende da qualidade da educação e a qualidade da educação se alcança com menos alunos por turma, com um grande sistema de formação permanente do professorado e com uma grande relação entre famílias e educadores.

O senhor é catalão... acredita que o ensino de línguas “cooficiais” é um problema que requer uma solução de Catalunha, como planeja o governo?

Na Espanha há bem poucas variantes linguísticas, que são uma riqueza excepcional e o Estado central deve dizer que quanto mais línguas espanholas se souber, melhor. Eu tinha cinco anos quando Franco proibiu na Catalunha o ensino do catalão e na minha época falávamos mais catalão do que nunca porque o que é clandestino sempre atrai. Os meninos não aprendem as línguas de forma comparativa, mas de forma intuitiva.
Eu sou muito catalão, sou um cidadão do mundo, acredito que quanto mais línguas falarmos, melhor, e portanto, me parece muito ruim que se fale de espanholizar Catalunha. Mas o que é isso? Os separadores são piores que os separatistas. Não se pode ser separador. Não se pode estar sempre fazendo que haja pessoas que reajam diante desse separatismo centralizador. Se se deseja mudar um modelo que em Catalunha funciona bem, é porque se tem saudade da “Espanha, uma, grande e livre”.

Extraído da entrevista a Anna Flotats, publicada no http://www.elpais.es em 25 de maio de 2013.

quinta-feira, 11 de julho de 2013

Entrevista de Francesco Tonucci

Entrevista: Francesco Tonucci: “A educação, por ser educação, tem que ser pública.”
48ª Escola de Verão, 9 de julho de 2013.

O pedagogo italiano Francesco Tonucci fala nesta entrevista editada em vídeo no site http://www.stopleywert.org sobre a LOMCE, e a importância da Educação Infantil, de educar na diversidade e de priorizar a educação pública acima das demais. Pode-se ver a entrevista completa no site citado, enquanto que aqui lhes transcrevemos algumas das frases que mais nos agradaram.

Segundo a LOMCE (Lei Orgânica para a Melhoria da Qualidade Educativa), a educação é o motor que promove a competitividade da economia...

Essas duas palavras são inaceitáveis em termos de educação. A educação não pode ser competitiva, tem que ser cooperativa.
Os meninos têm que aprender a somar conhecimentos e não a competir entre si, e o motor não pode ser o mercado e sim a felicidade.
Nos primeiros anos se estabelecem os fundamentos de tudo o que se aprenderá ao largo da vida.
A Educação Infantil assumiu uma importância fundamental em toda a educação.
Somente a ignorância pode fazer pensar que a Educação infantil é menos importante que, por exemplo, a educação universitária.

O que significa educar na diversidade?

La diversidade é um direito e significa estarem juntos os diferentes.
A diversidade nunca pode ser um critério de seleção e de exclusão.
O importante é que os meninos possam compartilhar as experiências e não que tenham que desenvolver separadamente a suas capacidades.

A LOMCE quer recuperar o sistema de revalidações...

A avaliação tem que ser a capacidade de se medir o progresso.

Por que a Educação Pública é importante?

Uma educação, por ser educação, tem que ser pública.
Reduzir os investimentos em educação significa comprometer o futuro.

Por que a Educação é tão importante?

Porque tem uma relação muito importante com a felicidade.
Não temos que renunciar a fazer aquilo de que gostamos para fazer o que o Mercado demanda.

Wert (o ministro da educação, cultura e esportes da Espanha) diz que há disciplinas importantes e outras distraem...

Não há matérias importantes e outras secundárias.
Hoje em dia oferecemos a todos uma escola para poucos e que segue pensando que o mais importante é ler e escrever; a escola deveria poder oferecer a todos uma série grande de linguagens considerando-as dignas.

Na LOMCE não há sequer rastro da Educação infantil...

Os anos mais importantes da vida de uma pessoa são os primeiros.

Veja a entrevista em :


quarta-feira, 10 de julho de 2013

Entrevista com Carme Alemany

Entrevista: Carme Alemany
48ª Escola de Verão, 10 de julho de 2013

QUANTO MAIOR FOR A AUTONOMIA DOS ALUNOS, MAIS SIMPLES SERÁ TRABALHAR A DIVERSIDADE NA ESCOLA

Carme Alemany é professora da escola rural El Reure Gros de Santa Eulália de Riuprimer há 31 anos, e desde há 7 anos em sua escola se ensina de uma maneira diferente, o que dá bons resultados. Nesta entrevista tentamos descobrir qual o segredo do modelo educativo da escola.

Na escola onde trabalha, a Roure Gros de Santa Eulália de Riuprimer, você sempre tem defendido a autonomia da criança. Poderia explicar como a entende?

A criança é uma pessoa em toda sua plenitude, com capacidades próprias para administrar seu mundo, para investigar e aprender. As crianças, desde o princípio de sua vida, investigam. Em algumas coisas necessitam inicialmente do controle, suporte, ajuda e orientação do adulto, em outras se viram sozinhas e é bom que se lhes permita fazê-lo. Penso que seja essencial respeitar a individualidade e as etapas evolutivas de cada menino e menina e uma das bases nas quais deve se basear esse respeito é a autonomia pessoal. Quanto maior for a autonomia dos alunos, mais simples será trabalhar a diversidade na escola.
Ser professor, desde o meu ponto de vista, é fazer-se guia desse processo em direção ao conhecimento. Nesse sentido, penso que é necessário mudar a ideia de que o professor é uma pessoa que sabe tudo o que os seus alunos precisam saber e substituí-la pela de uma pessoa observadora, capaz de captar os interesses das crianças e dar-lhes sentido, uma pessoa respeitadora dos processos e ritmos individuais de aprendizagem, que a sua relação com o conhecimento seja rica e agradável, com interesse e capacidade de aprender constantemente e que saiba transmitir esse prazer e esse encanto aos seus alunos. Ser professor é uma profissão e não é uma atividade fácil. É preciso ter as capacidades específicas que, como em toda profissão, se requerem e a atitude e o esforço necessários par melhorar e avançar dia a dia.

Você esteve por 33 anos na mesma escola e sempre denunciou a dificuldade para se consolidar uma equipe educativa. Como acredita que se pode construir esse equilíbrio entre a continuidade e a renovação da equipe?

Penso que devemos ser capazes de consolidar equipes coerentes com os projetos de cada escola. Que os projetos da escola deveriam definir muito claramente os princípios básicos com os quais se deve comparar todas as mudanças futuras e não acredito que a renovação constante que requer a escola tenham que vir, necessariamente, da mudança de pessoas, mas sim da reflexão conjunta sobre a prática e em referência a esses princípios básicos. A escola tem que ser uma instituição viva e como tal deve seguir reconhecendo e assumindo as mudanças que produto da reflexão coletiva, não somente da equipe de professores, mas também de todos os elementos e contextos sociais implicados, mas sem perder jamais as referências e os princípios mais profundos que a definem e diferenciam.

Com essa criança que tem o direito de decidir o que quer aprender, como temos que mudar nossa maneira de ser professores?

Veja que não se trata de “decidir o que quer aprender”, mas “decidir a partir do que quer aprender”. Os conhecimentos que como adultos cremos que é necessário que os meninos e meninas aprendam estão contidos na grande  maioria de vivências do nosso entorno, é, portanto, absolutamente respeitável que cada pessoa decida o caminho que deseja trilhar.

Você tem participado como docente em muitas escolas de verão (cursos de formação continuada para professores oferecidos durante o recesso de verão). Acredita que a formação continuada dos mestres está, atualmente, em perigo?

Penso que não. Acredito que há um grande interesse por parte de muitos professores por formarem-se continuamente e isso podemos verificar melhor quando podemos conversar com eles de perto. Talvez este seja um momento de formação mais diversificada, mas em pequenos grupos, mais constante ao largo do curso... talvez seja necessário pensarmos em outras propostas... Estamos num momento rico em mudanças. As mudanças sempre são animadoras se soubermos reconhecer e refletir o ambiente que demandam. É um momento interessante para uma reflexão profunda sobre os modelos estabelecidos, também neste aspecto.

Jordi Navarro

Encontro "Etnicidade e Populações Autóctones" - Paranaguá / PR




Educação democrática