Entrevista: Carme Alemany
FONTE: http://www.rosasensat.org
48ª Escola de Verão, 10 de julho de 2013
QUANTO MAIOR FOR A AUTONOMIA DOS ALUNOS, MAIS SIMPLES SERÁ TRABALHAR A
DIVERSIDADE NA ESCOLA
Carme Alemany é professora da escola rural El Reure Gros de
Santa Eulália de Riuprimer há 31 anos, e desde há 7 anos em sua escola se
ensina de uma maneira diferente, o que dá bons resultados. Nesta entrevista
tentamos descobrir qual o segredo do modelo educativo da escola.
Na escola onde trabalha,
a Roure Gros de Santa Eulália de Riuprimer, você sempre tem defendido a
autonomia da criança. Poderia explicar como a entende?
A criança é uma pessoa em toda sua plenitude, com
capacidades próprias para administrar seu mundo, para investigar e aprender. As
crianças, desde o princípio de sua vida, investigam. Em algumas coisas
necessitam inicialmente do controle, suporte, ajuda e orientação do adulto, em
outras se viram sozinhas e é bom que se lhes permita fazê-lo. Penso que seja
essencial respeitar a individualidade e as etapas evolutivas de cada menino e
menina e uma das bases nas quais deve se basear esse respeito é a autonomia
pessoal. Quanto maior for a autonomia dos alunos, mais simples será trabalhar a
diversidade na escola.
Ser professor, desde o meu ponto de vista, é fazer-se guia
desse processo em direção ao conhecimento. Nesse sentido, penso que é
necessário mudar a ideia de que o professor é uma pessoa que sabe tudo o que os
seus alunos precisam saber e substituí-la pela de uma pessoa observadora, capaz
de captar os interesses das crianças e dar-lhes sentido, uma pessoa
respeitadora dos processos e ritmos individuais de aprendizagem, que a sua relação
com o conhecimento seja rica e agradável, com interesse e capacidade de
aprender constantemente e que saiba transmitir esse prazer e esse encanto aos
seus alunos. Ser professor é uma profissão e não é uma atividade fácil. É
preciso ter as capacidades específicas que, como em toda profissão, se requerem
e a atitude e o esforço necessários par melhorar e avançar dia a dia.
Você esteve por 33
anos na mesma escola e sempre denunciou a dificuldade para se consolidar uma equipe
educativa. Como acredita que se pode construir esse equilíbrio entre a continuidade
e a renovação da equipe?
Penso que devemos ser capazes de consolidar equipes
coerentes com os projetos de cada escola. Que os projetos da escola deveriam
definir muito claramente os princípios básicos com os quais se deve comparar
todas as mudanças futuras e não acredito que a renovação constante que requer a
escola tenham que vir, necessariamente, da mudança de pessoas, mas sim da reflexão
conjunta sobre a prática e em referência a esses princípios básicos. A escola
tem que ser uma instituição viva e como tal deve seguir reconhecendo e
assumindo as mudanças que produto da reflexão coletiva, não somente da equipe
de professores, mas também de todos os elementos e contextos sociais
implicados, mas sem perder jamais as referências e os princípios mais profundos
que a definem e diferenciam.
Com essa criança que
tem o direito de decidir o que quer aprender, como temos que mudar nossa maneira
de ser professores?
Veja que não se trata de “decidir o que quer aprender”, mas “decidir
a partir do que quer aprender”. Os conhecimentos que como adultos cremos que é
necessário que os meninos e meninas aprendam estão contidos na grande maioria de vivências do nosso entorno, é,
portanto, absolutamente respeitável que cada pessoa decida o caminho que deseja
trilhar.
Você tem participado
como docente em muitas escolas de verão (cursos de formação continuada para
professores oferecidos durante o recesso de verão). Acredita que a formação
continuada dos mestres está, atualmente, em perigo?
Penso que não. Acredito que há um grande interesse por parte
de muitos professores por formarem-se continuamente e isso podemos verificar
melhor quando podemos conversar com eles de perto. Talvez este seja um momento
de formação mais diversificada, mas em pequenos grupos, mais constante ao largo
do curso... talvez seja necessário pensarmos em outras propostas... Estamos num
momento rico em mudanças. As mudanças sempre são animadoras se soubermos
reconhecer e refletir o ambiente que demandam. É um momento interessante para
uma reflexão profunda sobre os modelos estabelecidos, também neste aspecto.
Jordi
Navarro
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