quarta-feira, 26 de dezembro de 2012

ABAIXO A MEDICALIZAÇÃO DAS CRIANÇAS!


Especialistas veem exagero em diagnósticos do TDAH e criticam medicação excessiva

Cristiane Capuchinho
Do UOL, em São Paulo

Pais e professores enfrentam um dilema: quando a falta de atenção do estudante em sala de aula é problema de saúde e quando é um problema com os métodos do professor? Especialistas embatem sobre o aumento do uso de remédios, como a ritalina, no combate de deficiências escolares e o diagnóstico preciso do TDAH (Transtorno do Deficit de Atenção com Hiperatividade).
Os defensores da campanha contra a medicalização da educação entendem que muitas vezes existe um tratamento de diferenças comportamentais como se elas fossem doença. Para eles, o diagnóstico foi banalizado e problemas que são pedagógicos – e deviam ser tratados com estratégias de ensino – vão parar no âmbito da saúde.
Sem remédioPsiquiatras e neurologistas, por outro lado, apontam para a importância do diagnóstico correto do transtorno para melhorar a qualidade de vida dos pacientes.
Para a psicóloga Carla Biancha Angelucci, presidente do CRP (Conselho Regional de Psicologia) de São Paulo, a escola não consegue lidar com as diferenças entre as crianças e usa métodos pedagógicos que não atingem todos os alunos. "Se a criança não se interessar pela educação é muito possível que ela comece a apresentar hiperatividade, situações de conflito. Não temos que mexer na criança para que ela possa suportar com tranquilidade uma aula desinteressante", afirma.
"Se em casa a criança é de um jeito e na escola é de outro, os pais devem tentar descobrir o que está acontecendo de errado para haver um conflito escolar. Os pais devem conversar com professores e com outros pais de alunos", recomenda Angelucci.


Pressão social versus problema médico

"Na nossa sociedade, o que é preciso para seronsiderado bem-sucedido é ser multifuncional, ter muitas janelas abertas, ser egoísta. Mas quando você vê isso em um aluno se diz que ele tem um problema", aponta a psicóloga Gisela Untoiglich, professora da Universidade de Buenos Aires.
O TDAH atinge entre 3% e 6% das crianças em idade escolar. A estimativa é feita a partir de diferentes pesquisas internacionais, afirma o neuropediatra Mauro Muzcat, coordenador do Ambulatório de Deficit de Atenção da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo), que trata 650 crianças atualmente.
Desses, pouco mais de 50% dos diagnosticados terão o mesmo transtorno quando adultos, afirma.
Muzcat explica que no diagnóstico do transtorno não basta ver os sintomas, é importante perceber o quanto os sintomas afetam a vida das crianças.

Aumento na venda de remédios

Entre 2005 e 2010 a dispensação de comprimidos com o composto químico cloridrato de metilfenidato, princípio ativo de remédios como a ritalina, cresceu 1.645% no Estado de São Paulo. Os dados são de um levantamento feito pelo CRP-SP com informações de 287 municípios.
O uso do medicamento tem "efeitos muito bons nos pacientes diagnosticados" que "em média fazem o tratamento por dois anos", segundo Muzcat.
No entanto, a preocupação se justifica pelo aumento no número de estudantes que buscam na ritalina a solução para se concetrarem nos estudos. "As famílias também estão afetadas pelo ímpeto de produção. O aluno tem que ter boa performance, tem que acompanhar as aulas no mesmo ritmo dos outros alunos", explica Carla Biancha Angelucci, presidente do CRP-SP.

Um comentário:

  1. Flavio, Não sei se já atentamos para a relação entre mudança no padrão produtivo e educação. Qual sera´o impacto dos estímulos audio-visuais da microeletrônica no sistema neurológico da criança? O que pode vir a ser uma aula "interessante" neste novo contexto? Qual tipo de conteúdo é mais favorecido por esta nova forma de organizar o trabalho e a produção? Qual o impacto na sociabilidade e na subjetividade em formação?
    Enfim, acredito, como hipótese, que estas questões relacionadas à maquinaria deveriam ser objeto de nossa atenção. Além da alimentação e do estilo de vida. Cresci brincando na rua. Um "estímulo" para cumprir as tarefas escolares era terminar cedo para poder ir brincar. As crianças vivem confinadas em apartamentos hoje e saem para praticar esportes, só obrigações, sem liberdade. Na classe trabalhadora ou é falta de limite ( ficam sozinhos) ou é confinamento diante da TV. Tudo isso deságua na escola e não bendita aula "interessante". Quando tudo falha, medica a criança e a robotiza.
    É preciso pensar nas questões que impactam a relação da criança com o processo de formação. Qual processo de (de) formação está em curso hoje?
    Abr
    Lorene Figueiredo,
    Mãe de um rapaz com TDA e professora.

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